Diante
da crise no cenário nacional que gera incertezas, desmotivação e o avanço do
setor conservador, a Pastoral Fé e Política da Região Episcopal Brasilândia
realizou, entre 14 e 16 de maio, na Paróquia Santa Cruz de Itaberaba, a Semana
de Fé e Compromisso Social, com a reflexão de temas como a regulação da mídia, a
crise econômica e reforma política. Três temas responsáveis pela situação atual.

Na
primeira noite, o jornalista Altamiro Borges, coordenador do Centro de Estudos
Barão de Itararé, fez uma análise do poder da mídia comercial no processo de
manipulação e “enburrecimento” da sociedade. Ele destacou a necessidade urgente
de o Brasil fazer o marco regulatório das comunicações. “O fim da propriedade
cruzada dos meios de comunicação é um dos pontos que o projeto de lei de
iniciativa popular está propondo. O Brasil está atrasado nessa questão. Só para
lembrar, a lei que regula a comunicação no Brasil é de 1962. Democratizar a
mídia é urgente para garantir uma comunicação cidadã”. Para entender como
funciona a mídia no Brasil, acesse blog http://altamiroborges.blogspot.com.
Padre
Cilto José Rosembach, assessor da Pastoral da Comunicação regional, trouxe para
o debate a preocupação da Igreja Católica com relação aos meios de comunicação
católicos e comunitários. Destacou que o Diretório de Comunicação, documento 99
da CNBB, trouxe para a Igreja do Brasil uma linha de reflexão sobre a comunicação.
“O processo de comunicação dialógico traz para o centro do debate o papel dos
meios de comunicação da Igreja sejam eles rádios, TVs, jornais, revistas,
sites, blogs, e outros”.
O
desafio neste cenário é fortalecer os meios de comunicação alternativos e
populares, motivar os profissionais da comunicação no sentido apoiar e
contribuir com essas iniciativas de comunicação. Ao mesmo tempo, tanto as
Igrejas, movimentos sociais, sindicatos, centros de estudos e ativistas
precisam manter o debate da regulação da mídia no cenário nacional. Uma das
iniciativas em curso é o projeto de lei de iniciativa popular. Por fim,
destacou a carta do Papa Francisco para o 49º Dia das Comunicações Sociais,
celebrado em 17 de maio, que trata da importância da comunicação na família, um
espaço privilegiado de comunicação.
A
crise na economia e democracia, tema da segunda noite do encontro, contou com a
colaboração do professor titular de economia da PUC-SP, Ladislau Dowbor, e do
militante da Pastoral Operária Metropolitana, Waldemar Rossi.
No alto de sua experiência em consultoria para as Nações
Unidas e outras entidades, além de diversas passagens pela máquina pública,
tanto no Brasil quanto no exterior, Dowbor alertou para a inconsistência das
análises econômicas que atualmente pululam na mídia. Didaticamente, ele mostrou
o caminho: “É preciso fazer a lição com a economia da casa”, ou seja, o
trabalho do economista: procurar os números, analisar os dados, comparar,
checar.
Depois, explicou que a economia pode ser comparada com a administração
de uma casa. Assim,
é possível entender melhor como funciona a grande casa Brasil. Entender o que
os bancos fazem com o dinheiro do povo brasileiro é um bom caminho para
compreender as causas da crise econômica atual. “Os lucros que essas empresas
chamadas de banco acumulam são espantosas. O que se torna inda mais perverso é
que esses lucros não são aplicados no Brasil e sim em paraísos fiscais”.
Por
isso, é necessário entender para onde vai o dinheiro que o povo paga aos cofres
públicos todos os dias. Ao comprar qualquer coisa, se paga impostos. Ao usar
qualquer serviço publico, a população está pagando impostos.

Para enfrentar essa realidade, o governo tem armas poderosas.
A primeira é retomar a redução progressiva da taxa Selic, o que obrigaria os
bancos a procurar aplicações alternativas, voltando a irrigar iniciativas de
empreendedores e reduzindo o vazamento dos recursos públicos para os bancos. A
segunda é reduzir as taxas de juros ao tomador final na rede de bancos
públicos, conforme foi experimentado em 2013. Para Dowbor, essa é a melhor
forma de introduzir mecanismos de mercado no sistema de intermediação
financeira, contribuir para fragilizar o cartel ao obrigá-lo a reduzir os juros
estratosféricos. A terceira consiste no resgate de um mínimo de equilíbrio
tributário: não se trata de aumentar os impostos, mas de racionalizar sua
incidência. Para entender melhor os caminhos da Economia Brasileira, Dowbor deixou
seu site como referencia www.dowbor.org.
Para
o militante Valdemar Rossi, parte da responsabilidade da crise que hoje afeta
os trabalhadores é a política adotada pelo governo federal. “Os ajustes que o governo
brasileiro tem feito para combater a crise econômica só prejudicaram os trabalhadores.
As empresas multinacionais, bancos e o agronegócio foram e continuam sendo os
mais beneficiados. Isso precisa mudar”, concluiu ele.
Para
fechar a Semana de Fé e Compromisso Social, a reforma política foi o tema em
debate. Padre Antonio Manzatto, do clero da Região Brasilândia, iniciou a
reflexão com a motivação de que os cristãos ao serem batizados recebem uma missão.
Por isso, cada um de nós tem como compromisso colaborar com ações de libertação
das pessoas. Isso significa que fé e vida estão misturadas. Não estão separados.
Para ter fé em Deus, é preciso seguir os ensinamentos de Jesus. O seguimento de
Jesus aponta para o compromisso com as pessoas que são injustiçadas. Padre Manzatto
também destacou o chamado do Papa Francisco para o ano da Caridade. Não uma
caridade voltada apenas para o assistencialismo, mas uma caridade que mexa com
as estruturas que geram desigualdades.
Na
sequência, Julio Turra falou sobre o projeto da Constituinte Exclusiva e Soberana.
Ele lembrou-se do plebiscito realizado na Semana da Pátria, que recebeu mais de
8 milhões de votos pelo sim da reforma política. Ele explicou que a reforma
política precisa ser feita pela sociedade civil e não pelos parlamentares, que
na sua maioria foram eleitos para defender interesses do agronegócio, dos
bancos e das multinacionais.
Para
falar do projeto de lei eleições limpas, o professor Américo Sampaio, membro do
comitê por São Paulo da Coalizão que envolve centenas de entidades, uma das
quais a CNBB, que assina e apoia o projeto. Américo fez uma rápida análise da situação
do atual Congresso nacional que é um dos mais conservadores desde 1964. Além de
diminuir a bancada de deputados comprometidos com a justiça social, aumentou
assustadoramente a bancada da bala, do agronegócio, dos latifundiários,
banqueiros, donos dos meios de comunicação de massa ultraconservadores. Nesse
cenário, qualquer projeto de iniciativa popular terá muitas dificuldades para
ser colocado em debate. Também falou que o projeto eleições limpas seria
apresentado no Congresso Nacional no dia 20 de maio. Para saber mais, acesse: www.reformapoliticademocratica.org.br.
Como
encaminhamento para continuar pautando os temas de relevância foi apontada a
proposta de criar um fórum permanente de debate. Padre Antonio Manzatto disse
que pode colaborar com a estruturação deste espaço.
Reportagem:
Juçara Terezinha Zottis