Daniel Gomes, pela Pascom Brasilândia
(reportagem publicada no jornal O São Paulo)
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O
anseio pela paz estava nos rostos, cartazes, faixas, bandeiras e camisetas
brancas das 2 mil pessoas, que participaram da Caminhada pela Paz e Não
Violência, no domingo, 25, pelas ruas do Jardim Guarani e Jardim Carumbé, na
periferia da zona noroeste de São Paulo.
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Padres,
religiosas, religiosos, leigos e lideranças políticas, ao lado de dom Milton
Kenan Júnior, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo para a Região
Brasilândia, e dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC),
caminharam por três quilômetros, debaixo de garoa, ao longo de duas horas, em
solidariedade às famílias e comunidades atingidas pela violência.
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“Dizemos
a essas comunidades e famílias que elas não estão sozinhas, que nós queremos
caminhar ao lado delas. Ao mesmo tempo, a caminhada é também um ato profético,
de denúncia contra toda a violência, denúncia diante do silêncio que se faz em
torno da violência na cidade de São Paulo e no Brasil. A caminhada também quer
ser um apelo pela paz, um convite para que as pessoas se desarmem, se convençam
de que não é o ódio que vence o ódio, nem são as armas ou rancor, mas, ao contrário, é a união e o amor”,
expressou dom Milton em entrevista.
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A
caminhada partiu da Paróquia São Francisco de Assis, no Jardim Guarani, bairro
onde os jovens Luís Ricardo Romão (Rogerinho) e Carlos Eduardo de Oliveira
Santos (Duda) foram assassinados na madrugada do dia 5. Familiares e amigos dos
jovens caminharam com camisetas que os homenageavam.
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De
acordo com o padre Edson Jorge Feltrin, pároco, há ainda uma sensação de
insegurança no bairro, embora menor do que a verificada anteriormente. “Mas a
violência escondida é bem maior do que a que se manifesta, porque a violência
verdadeira é a falta de escolas, de creches, os jovens não têm lazer, as
crianças brincam na rua. Há uma violência institucionalizada que acabou
explodindo nessa violência com armas. Todos têm sofrido com essa ausência do
Estado na periferia”, avaliou à reportagem.
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Jovens
das paróquias da Brasilândia e também da Pastoral da Juventude das regiões
Belém e Lapa tomaram parte da caminhada, tendo à frente a réplica da Cruz da
Jornada Mundial da Juventude.
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“Essas
mortes me preocupam, não pode continuar assim, somos todos irmãos e temos que
viver em paz. O pessoal anda com medo, tem medo de sair na rua, estamos
perdendo nossa liberdade”, lamentou Wanderson dos Santos Gomes, 14 anos, atuante
na Paróquia São Luís Maria Montfort, do Jardim Rincão.
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A
garoa e o trajeto íngreme das ruas não foram obstáculos para a participação dos
mais velhos. “Essa violência contra os jovens me comoveu muito. Está morrendo
muita gente inocente. Ontem foi do lado de lá, qualquer dia pode ser na minha
casa”, analisou dona Severina Maria de Souza Neta, agente de pastoral da Paróquia
São José, de Perus.
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A
caminhada foi concluída em frente à Paróquia Bom Pastor, no Jardim Carumbé.
“Paz, paz, paz, nós queremos paz. Paz, paz, paz, violência nunca mais”,
gritaram os 2 mil caminhantes.
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“Desejamos
que essa caminhada possa, de fato, favorecer o surgimento da paz. Toda via,
sabemos que o fim da violência é especialmente uma questão de educação e de
conscientização”, disse o padre Konrad körner, pároco da Paróquia Bom Pastor.
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Presente
à parte final da caminhada, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) comentou sobre os
atos violentos cometidos por alguns policiais contra civis. “A atitude que, às
vezes, alguns policiais tem tido acaba criando um clima de maior conflito entre
a população e os policiais, portanto, é importante que seja dada uma orientação
aos policiais para tratarem a população com todo o respeito e em qualquer lugar,
por mais humilde que seja o bairro”.
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Antes
da benção pela paz, concedida por dom Milton, dom Angélico motivou os leigos a
não perderem a esperança. “Primeiro, nada de ter medo! Muitas vezes, programas
de rádio, de televisão, lançam insegurança no coração do povo. Vamos ter
confiança! Segundo, Jesus disse, ‘confiem’. Jesus foi crucificado, morto, mas
ressuscitou. Unidos a Jesus, nós vamos avante. Terceira coisa: há muito mais
gente boa no mundo, do que gente canalha. Vamos reforçar cada vez mais o time
daqueles que realmente querem a paz”, enfatizou.
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Fotos: Luciney Martins e Fátima Giorlano