sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Enchentes: a menor culpa é a da chuva

Por Daniel Gomes, jornalista e moderador do Blog da Pascom

A Região Metropolitana de São Paulo enfrentou dias de caos com as intensas chuvas iniciadas na noite da segunda-feira, 07 de dezembro. Enchentes, desabamentos, deslizamentos de terra e trânsito caótico fizeram parte do cotidiano dos mais de 18 milhões de moradores da Grande São Paulo.

Na terça-feira, 08, ápice do caos paulistano, choveu 75,8 mm, o equivalente a 37,7% do volume total previsto para dezembro. Porém, não se pode atribuir apenas ao volume das chuvas a culpa pelas enchentes. A maior parcela de responsabilidade está nos problemas estruturais de São Paulo, no descompromisso dos atuais administradores e na indiferença da população.

No que se refere à estrutura, as atuais administrações do governo do estado e da prefeitura de São Paulo insistem em repetir uma falha: construir vias às margens dos rios Tietê e Pinheiros. Margens de rios são originalmente zonas de mata ciliar, que “por natureza”, absorvem às águas excedentes dos rios. Em resumo, governo e prefeitura podem investir bilhões que jamais resolverão o problema de forma permanente.

As obras para rebaixamento da calha do Tietê, por exemplo, já consumiram mais de R$ 1,7 bilhão e não impediram transbordamentos, embora tenham servido de plataforma política nas eleições ao governo do estado em 2006 “Estamos há dois anos sem enchentes no Tietê e Pinheiros” diziam os brilhantes outdoors institucionais, à época. No recentemente alagamento das marginais, a culpa recaiu sobre as falhas no sistema de bombeamento das águas das marginais.

Além de investir onde não há solução, a prefeitura de São Paulo deixa de aplicar recursos do orçamento em obras como a canalização de córregos e serviços de drenagem. Recente levantamento de um grupo de vereadores da câmara revelou que de 2006 a 2009, R$ 353 milhões não foram aplicados no combate às enchentes na cidade.

Nos locais em que a prefeitura investiu houve melhoras significativas, como nas bacias do Aricanduva e do Pirajussara, mas a chuva de terça-feira mostrou a necessidade de se utilizar todo o dinheiro previsto contra as enchentes. Porém, inexplicavelmente, em 2009, só R$ 241 milhões dos R$ 329 milhões previstos para tal foram aplicados.

Há de se destacar, por fim, que os moradores da Região Metropolitana de São Paulo são co-responsáveis pelas enchentes. Em muitas ruas da cidade é comum encontrar papéis de balas, bitucas de cigarro, latas de refrigerante, planfletos e outros “lixos recicláveis” no acostamento das vias ou entupindo os boeiros da cidade. Sem dúvida, é dever do Estado zelar pela limpeza pública, mas cada cidadão deve ter a dimensão de que os pequenos atos de descuido com a cidade e com o meio ambiente aparecem acumulados no caos deflagrado com as intensas chuvas.

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