sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Oportunismo político: um risco às comunidades

Por Daniel Gomes, jornalista e moderador do Blog da Pascom

Em 2010, os brasileiros vão às urnas para escolher um novo presidente da república, além de governadores, senadores e deputados, federais e estaduais. Um ano eleitoral, como este, retoma a discussão sobre posicionamento da Igreja Católica e de seus fiéis nas eleições. O documento 87 da CNBB, referente às diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil (2008 - 2010), recomenda algumas posturas políticas.

O parágrafo 86 do documento fala sobre a presença, formação e atuação política dos fiéis católicos: "Todos os fiéis são também impulsionados pelo Espírito a participar da vida política, pois a vida cristã não se expressa somente em virtudes pessoais, mas também nas virtudes sociais e políticas. Os leigos, devidamente formados, devem estar presentes na vida pública, atuando como verdadeiros sujeitos eclesiais e competentes interlocutores entre a Igreja e a Sociedade".

Se atuar politicamente é um dever do cristão, resta a incerteza de como fazê-lo de forma democrática e sem apelos de politicagem. Em recentes "anos políticos", foram muitos os relatos das ações de "políticos oportunistas" na Região Brasilândia. Na maioria dos casos, esses pleiteantes à vida pública oferecem auxílio financeiro e material para as comunidades e paróquias na busca de alguns minutos de "palanque religioso".

Geralmente, o "político oportunista" inicia sua tática tornando-se "amigo" das lideranças comunitárias e agentes de pastoral. Depois, identifica as demandas da comunidade e oferece a solução, com generosas doações de materiais como bancos novos, microfones, aparelho de som, datashow, entre outros.

Outra estratégia adotada pelo "político oportunista" consiste em fazer uso da palavra nos momentos celebrativos: de uma hora para outra, o sujeito que raramente ia à missa, se oferece para fazer comentário, leituras e até preparar a homenagem da missa do dia das mães, por exemplo. Outra tática é o patrocínio em eventos da comunidade, quando o "político oportunista" coloca o próprio nome em destaque em faixas, folders e panfletos.

Há até relatos, muito recentes, de candidatos que para ter uma relação mais próxima com as lideranças, estimularam que as reuniões deliberativas sobre os assuntos da comunidade ocorressem foram do espaço da igreja e distante da vista dos padres, para que "outros assuntos" também entrassem em pauta.

As lideranças comunitárias e os agentes de pastoral devem estar atentos as essas situações e comunicá-las ao pároco ou administrador paroquial. O documento 87 da CNBB, no parágrafo 59, destaca que os católicos, como missionários de Jesus Cristo, são convocados a participar "responsavelmente na construção de uma sociedade mais justa, na reabilitação da ética e da política, no trabalho por uma cultura de co-responsabilidade".

Portanto, a Igreja Católica não está isenta das discussões políticas e pode promover oportunidades para o diálogo com as diversas tendências políticas, além de momentos para formação e debates, como o realizado em 2008 pela Região Episcopal Brasilândia com os candidatos a prefeito de São Paulo.

A existência de "políticos oportunistas" não é indício de que toda a classe política e os pleiteantes à vida pública sejam corruptos. É de bom termo que as lideranças comunitárias desestimulem e impeçam a ação dos "políticos oportunistas" e criem situações para um amplo debate político e democrático, sem partidarismo, como recomenda o documento 87 da CNBB em seu parágrafo 179:

"Consciente de sua inevitável contribuição para o bem comum e para uma sociedade cada vez mais democrática, a Igreja reconhece, no cerne de sua identidade, o caráter indispensável do empenho por uma democracia plena, inclusiva e participativa. Ao assumir o compromisso político, a postura católica se caracteriza pela radicalidade evangélica, sem identificação partidária, todavia".

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