sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Igreja Católica não é cabo eleitoral de ninguém

Por Daniel Gomes, pela Pascom Brasilândia

Como tem sido comum desde a redemocratização da sociedade brasileira nos anos 1980, a Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil não faz campanha para político algum. Nestas eleições, a conduta da Instituição não é diferente, apesar de as impressões pessoais de alguns religiosos terem sido, equivocadamente, divulgadas como posicionamento oficial da Igreja.

Em 19 de julho, por exemplo, o bispo de Guarulhos (SP), dom Luiz Gonzaga Bergonzini, publicou uma carta na qual expôs argumentos para que os fiéis não votassem na candidata a presidência da república Dilma Rousseff. Horas depois, sem o mínimo de checagem jornalística, os principais sites e jornais do país publicavam em letras garrafais manchetes como “CNBB pede que cristãos não votem em Dilma”.

Equivocadamente, ou por questões obscuras do ambiente político, parte significativa da grande mídia transformou uma opinião pessoal em posicionamento oficial da CNBB. Algo lamentável e totalmente sem sentido, já que desde o começo do período eleitoral a Igreja tem explicitado que não apoia ou repudia candidaturas, mas sim instrumentaliza os fiéis para que discutam, democraticamente, as propostas políticas que se apresentam para a gestão do país e dos estados brasileiros.

Como sujeitos sociais, padres, bispos e leigos são livres para expressar aquilo que pensam - algo que o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) chamou de uso público razão. No entanto, ao se posicionarem em nome da Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil devem estar em sintonia com as diretrizes colocadas a respeito de tal temática – o chamado uso privado da razão, pelo mesmo filósofo.

Na quinta-feira, 16 de setembro, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, divulgou nota à imprensa na qual esclarece quem se manifesta em nome da Conferência. “Falam em nome da CNBB somente a Assembléia Geral, o Conselho Permanente e a Presidência. O único pronunciamento oficial da CNBB sobre as eleições/2010 é a Declaração sobre o Momento Político Nacional, aprovada pela 48ª Assembleia Geral da CNBB, deste ano, cujo conteúdo permanece como orientação neste momento de expressão do exercício da cidadania em nosso País”, aponta um dos trechos da nota assinada por dom Geraldo Lyrio Rocha (presidente da CNBB), dom Luiz Soares Vieira (vice-presidente) e dom Dimas Lara Barbosa (secretário geral).

Na mesma nota, a CNBB encoraja os fiéis para que participarem conscientemente do processo eleitoral. “Por isso, incentivamos a que todos participem e expressem, através do voto ético, esclarecido e consciente, a sua cidadania nas próximas eleições, superando possíveis desencantos com a política, procurando eleger pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana. Em particular, encorajamos os leigos e as leigas da nossa Igreja a que assumam ativamente seu papel de cidadãos colaborando na construção de um País melhor para todos”, diz o texto.

O Blog da Pascom Brasilândia alerta aos leigos que nenhum canal de comunicação oficial da Igreja Católica está autorizado a realizar campanha política para candidato algum, o que não impede, no entanto, de que haja o levantamento das demandas locais e nacionais que assolam em especial a população mais carente e sejam promovidos, em comunidades e paróquias, encontros entre candidatos, nos quais todas as legendas políticas estejam representadas e tenham igual poder de voz.

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