sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Conversa particular não é posicionamento público

Por Daniel Gomes, pela Pascom Brasilândia

De pequeno e desconhecido site, o Wikileaks tornou-se, equivocadamente, fonte de referência segura para a imprensa mundial a partir da obtenção ilegal de registros confidenciais de autoridades em todo mundo. O acesso a dados e conversas particulares de diversas personalidades chegou também às confidências da Igreja Católica.

Nas duas últimas semanas, repercutiram a suposta postura da instituição de dificultar os casos de investigação de pedofilia cometidos por clérigos na Irlanda e as conversas de dom Odilo Scherer e dom Cláudio Hummes, com cônsules norte-americanos.

O Wikileaks apresentou conversas do atual arcebispo de São Paulo com o cônsul-geral dos Estados Unidos, Thomaz White, datadas de outubro de 2007, nas quais o cardeal faz avaliações sobre o programa Bolsa Família, a perda de fiéis para as igrejas evangélicas, a imagem midiática do papa e atuação a Teologia da Libertação.

Há também no Wikileaks trechos de diálogos, de março de 2006, entre dom Cláudio Hummes e Christopher McMullen – à época, arcebispo metropolitano e cônsul-geral dos Estados Unidos, respectivamente - nos quais o religioso avalia o escândalo do mensalão e as similaridades políticas entre PT e PSDB.

Pois bem, algumas ponderações sobre o episódio Wikileaks//Igreja Católica são fundamentais: primeiro, ninguém é obrigado a prestar esclarecimentos de conversas informais que desenvolva fora dos espaços públicos, pois tais diálogos não representam um posicionamento oficial, seja do falante ou da Instituição que representa.

Nesse sentido, nem dom Odilo, nem dom Cláudio são obrigados a vir a público para esclarecer o que disseram no foro íntimo – essa exigência já começa a ser feita pelos “estilingueiros de plantão da Igreja Católica” - até porque as avaliações de ambos foram sobre aspectos conjunturais da Igreja e do país, não se referiram a dogmas. Some-se a isso, o fato de que em nenhum momento as convicções pessoais dos cardeais foram usadas para interferir no andamento dos trabalhos pastorais da Igreja em São Paulo.

Outro aspecto a ser destacado refere-se à problemática dos atos de pedofilia cometidos por alguns clérigos. Por dezenas de vezes, os porta-vozes da Igreja e o próprio papa Bento 16 mostraram-se decepcionados com esses acontecimentos e há hoje clara atenção e preocupação para que tais episódios não se repitam. A Igreja não está inoperante diante de alguns poucos padres que desonram a batina que vestem.

Por fim, a mídia em todo mundo precisa estar atenta à “Wikileaks Mania”, pois até as fontes aparentemente mais confiáveis podem falhar um dia e levarem junto a credibilidade do jornalismo. Apuração e checagem são regras básicas da profissão.

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