sexta-feira, 15 de julho de 2011

Periferia age por gestão do lixo na Brasilândia

Por Jaime C.Patias (Revista Missões)
Juçara Terezinha (Pascom Brasilândia)


Lideranças das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) do Setor Cântaros, educadores e moradores do Jardim Carumbé, Jardim Paulistano, Vila Terezinha e Vila Isabel, na zona noroeste de São Paulo, realizaram no último sábado, 9 de julho, a caminhada educativa “Lixo bem colocado, nosso bairro é preservado”.

A meta da atividade foi orientar a população a colocar o lixo nas calçadas apenas nos períodos em que está prevista a passagem dos caminhões de coleta da prefeitura de São Paulo. Logo cedo, às 8h, cerca de 50 pessoas, se reuniram em frente à capela São Benedito, próximo ao CEU Jardim Paulistano, munidas de luvas, máscaras, vassouras, baldes, pás e um caminhão para recolher o lixo e dar um recado à população.

Animada e conscientizadora, a caminhada teve a presença dos bonecos Zé Limpinho e Maria Beleza que chamaram a atenção de crianças e adultos. Muitos pararam para conversar sobre a problemática do lixo, atraídos também pelos cartazes e faixas com mensagens sobre a importância do cuidado com o lixo, para evitar problemas de saúde como leptospirose, cólera, disenteria e hepatite, e impedir a formação de criadouros para o mosquito da dengue, a poluição do solo e águas, e degradação da imagem do bairro.

Ao longo do trajeto, os participantes recolheram lixo e entulho das ruas, praças e vielas – como restos de material de construção, móveis e utensílios domésticos – e entregaram panfletos com orientações educativas sobre o tema. Muitos moradores apoiaram a iniciativa e também criticaram a prefeitura, pela falta de infraestrutura e fiscalização, e àqueles que tratam o lixo com desleixo

Muitos moradores reclamaram, por exemplo, da falta de caçambas para acomodar os entulhos, da pouca regularidade do serviço de coleta seletiva da prefeitura de São Paulo e da não-existência de um trabalho conjunto das escolas, postos de saúde e entidades ambientais, no sentido de conscientizar a comunidade sobre a necessidade de separar os materiais, e de colocar o lixo no horário correto de coleta.

Maristela, Agente Comunitária de Saúde, disse, porém, que conscientização não falta, pois "já foram desenvolvidas ações educativas, mas o pessoal não quer saber. Também não é responsabilidade só da Prefeitura. Alguns catadores chegam e espalham o lixo".

Segundo o motorista do caminhão, a empresa contratada para o serviço coloca todos os dias, 23 caminhões, com uma equipe de seis trabalhadores cada para fazer a coleta, das 8h às 14h. "Essa frota é contratada pela Prefeitura e deveria ser dobrada para dar conta do trabalho, mas isso acontece somente nos messes de dezembro e janeiro", afirmou.

Moradores apoiam iniciativa

“Alguns querem se livrar é se livrar do lixo e jogam na porta da casa da gente. Não têm consciência que estão prejudicando o outro”, reclamou Maria da Rocha, do Jardim Paulistano.

"As praças não estão organizadas, as calçadas ficam quebradas e isso não ajuda a criar um ambiente limpo. Mas a Prefeitura não faz nada por nós. O cidadão da periferia fica abandonado, jogado no meio do lixo. Quando não existe organização, fica fácil jogar o lixo em qualquer lugar", lamentou Terezinha, liderança das CEBs.

“É muito triste ver que entre o material que poderia ser reciclado estão restos de comida, garrafas de vidro quebradas, cachorros e gatos mortos. Isso revolta a gente”, expressou José Cândido da Silva, catador de material reciclável há 20 anos.

Conceição Nogueira, comerciante no Jardim Paulistano, já teve a ideia de eliminar as sacolas de plástico utilizadas nas compras, mas as pessoas não aderiram. "Na década de 70, não tinha sacolas de plástico e a gente vivia muito bem. Não tinha enchente", lembrou Conceição, que aprovou a ação do último sábado.

"No Jardim Damasceno, a gente conseguiu fazer um trabalho com as crianças na escola e com a comunidade e o bairro melhorou muito. Aqui eu sempre via lixo nas ruas, mas não fazia ideia de que era tanto assim. Eu me assustei com a quantidade", contou a professora Marleide Rodrigues.
"Se a Prefeitura criasse pontos de coleta, o povo respeitaria mais. Esse Movimento é bom, mas só que isso não vai adiantar, porque quando sair daqui, o pessoal vai jogar de novo", disse, desconfiado o senhor Léo, também morador da região.

Nova ação já tem data marcada

Uma nova ação semelhante já foi marcada para o dia 20 de agosto, em outras ruas, no bairro Guarani. A concentração será na Paróquia São Francisco de Assis, às 8h, localizada na Manoel Nascimento Pinto, 591. Outras informações com Iva Mendes, pelo telefone (11) 8924-8515.

"Esta é uma primeira caminhada de mobilização, outras ações virão para quem sabe, mais fortalecidos, criar uma cooperativa de reciclagem", desejou o padre Edson Jorge Feltrin. "Contamos com o apoio de toda a comunidade, das crianças, dos jovens e adultos. Juntos somamos forças em favor da natureza", destacou.

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