sábado, 2 de maio de 2009

Em discussão, “O Lixo Nosso de Cada Dia”

O Simpósio “O Lixo Nosso de Cada Dia” promovido pela Região Brasilândia em 25 de abril, na paróquia Santos Apóstolos, reuniu mais de 200 pessoas, entre representantes governamentais, lideranças sociais, comunitárias e religiosas, para discutir a gestão do lixo na cidade de São Paulo e colaborar com apontamentos para o documento que a Região Brasilândia vai elaborar a cerca da temática.

Na abertura dos trabalhos, o bispo regional, Dom Simão, enfatizou que todos são co-responsáveis pela preservação do meio-ambiente e que a relação do homem com o lixo precisa passar por mudanças. “Nós somos colaboradores de Deus aqui na Terra e temos compromisso com a vida. A consciência ecológica é necessária para que possamos amar e preservar nossa residência comum que é o planeta Terra, e nesse sentido, o debate sobre o lixo é fundamental, para que não o vejamos apenas como problema, mas sim, uma possibilidade de solução para algumas questões sociais”, destacou.

No Simpósio, houve uma mesa de diálogo acerca das políticas públicas de gestão do lixo, com a participação de Wagner Taveiras, representante da Secretaria de Serviços e Obras e responsável pela coleta seletiva do lixo na capital; Minoru Kodama, técnico em coleta e destinação de resíduos sólidos; e Leonardo Morelli, representante da Defensoria Pública das Águas.

Wagner Taveiras, lembrou que diariamente 9,5 mil toneladas de lixo são produzidas em São Paulo e que apenas 20% desse montante é passível de reciclagem, mas só 7% são de fato reciclado através da coleta seletiva feita por 16 cooperativas de catadores (mais 10 devem firmar parceria com a prefeitura até 2012). Wagner Taveiras alegou que falta espaço para a instalação de novas cooperativas e lamentou a resistência das pessoas à montagem das centrais de triagem. “Todo mundo acha ótimo a existência das centrais de triagem, mas ninguém quer a instalação de uma perto de casa”, afirmou.

Minoru Kodama fez um histórico sobre o tratamento do lixo na cidade de São Paulo, apresentou as possibilidades para a gestão dos resíduos (compostagem, incineração, aterro sanitário e coleta seletiva), disse que a capital já exporta lixo para aterros sanitários de outras cidades como Guarulhos e Caieiras e denunciou a existência de uma máfia do lixo que emperra qualquer progresso nas políticas de limpeza urbana na cidade. Para ele, sem uma mudança nos hábitos alimentares (65% do lixo produzido é orgânico) e de consumo, a sociedade não conseguirá resolver a problemática do lixo.

O representante da Defensoria Pública das Águas, Leonardo Morelli foi enfático na crítica à gestão do lixo da cidade, especialmente quanto à venda de créditos de carbono em bolsa de valores. “Esse é o jeitinho brasileiro de burlar o Protocolo de Kyoto, vendendo energia limpa, extraída de fonte suja, e se não bastasse, o dinheiro arrecadado não é aplicado em benefício da comunidade, muito menos na recuperação das áreas degradadas pelos lixões”, avaliou. Segundo ele, menos de R$ 1 milhão, entre os R$ 34 milhões arrecadados com a venda dos créditos, foi investido em coleta seletiva e a prefeitura não tem se preocupado com a formação de novas cooperativas de catadores.

Os participantes do Simpósio puderam questionar os debatedores. Entre as diversas questões apresentadas houve menção à má gestão dos créditos de carbono, falta de capacidade do corpo técnico da prefeitura, desvios de recursos destinados à coleta seletiva, tratamento desumano dados aos catadores de lixo, falta de uma política educacional voltada à gestão do lixo e meio-ambiente e ausência da Câmara Municipal de São Paulo nos debates sobre o lixo.

Os apontamentos realizados pelos debatedores, bem como as opiniões dadas pelos os participantes nos grupos de trabalho do Simpósio, servirão de base para a elaboração de propostas na gestão do lixo, a ser feita pela Região Episcopal Brasilândia. Na entrevista coletiva concedida após o debate, Wagner Taveiras, responsável pela coleta seletiva do lixo na capital, comprometeu-se a encaminhar o documento para o gabinete do prefeito, o qual deverá repassá-lo aos grupos de trabalho devidos.

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